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Há no homem de cor uma tentativa de fugir da sua individualidade, de anular sua presença.











Assim é que para afirmar-se ou para negar-se, o negro toma o branco como marco referencial.

















É desse modo que o “desejo do embranquecimento” significa o desejo de sua própria morte, do desaparecimento do seu corpo, assim “o sujeito negro ao repudiar a cor, repudia radicalmente o corpo”.











Não conseguindo se ver incluído, o negro acaba por se excluir, como única alternativa para eliminar aquilo que é impossível de ser eliminado. Somente os processos auto-destrutivos podem significar, para ele, a eliminação daquilo que exclui seu próprio corpo, sua própria condição de sujeito.








O negro não deve mais se ver colocado diante deste dilema: branquear-se ou desaparecer, mas deve poder tomar consciência de uma possibilidade de existir.










O preconceito pode dar um conforto muito grande porque dá a ilusão de que você sabe automaticamente as coisas. Então, diante de uma pessoa negra, alguém supõe automaticamente que sabe tudo sobre ela. E esse conforto do preconceito alimenta a desconfiança.









E você não pode chegar à realidade de um artista negro fazendo abstração sem lidar com a abstração da negritude como uma matriz de identificações e projeções, igualmente reais e irreais.

















No centro do dizer, habita o que não se pode dizer, no universo feito de palavras há um mundo onde palavra alguma jamais pisou.


















‘Sendo o mais opaco, o mais escondido, é o que há de mais exterior e íntimo’.















O consentimento geral às opacidades particulares é o mais simples equivalente da não-barbárie.













No Brasil, depois da abolição, não se enforca mais os negros em árvores, como nos Estados Unidos, mas há outras formas sutis de extermínio, por não considerá-los como pessoa humana. É desconfiança radical e invisibilização. O negro é um cidadão invisível. Quando ele aparece, a violência aparece também.











Caminhando em vão, triste sem direção
Pensamentos voam, tira os pés do chão
Ninguém vai me notar, sou um homem invisível
Que mantem distância, prefiro assim








“Se eu não fosse o Mano Brown, seria invisível na rua”.















Sem um passado negro ou um futuro negro, foi me impossibilitado existir a minha negraria.














Um homem na estrada recomeça sua vida
Sua finalidade a sua liberdade
Que foi perdida, subtraída
E quer provar a si mesmo que realmente mudou
Que se recuperou e quer viver em paz
Não olhar para trás.














Quando as pessoas terão perdido sua
lembrança e, portanto, terá
sem passado, apenas futuro.
Quando eles terão que descobrir tudo
cada momento de novo e de novo
Quando eles terão perdido a necessidade de contato com os outros ...
Então eles viverão em um mundo de apenas cor, luz, espaço, tempo, sons e movimento










No fim do mundo, a negritude consta como vida e o negro, como humano.