Arte como projeto como livro
Curadoria: Diana Dobránszky
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/ab6551114a3212acec029c0740c6fd4a87b2becdd46f723845eeba9864bce544/FullSizeRender.jpg)
Um segmento importante da coleção moraes-barbosa é constituído por folhetos, pôsteres, livros de artista e álbuns em vinil de alguns dos mais importantes artistas conceituais das décadas de 1960 e 70. Com o intuito de disponibilizar o acesso de um público mais amplo a esse material, a exposição Arte como Projeto como Livro apresenta livros, obras e vinis de Douglas Huebler, Lawrence Weiner, Robert Barry, Seth Siegelaub e Stanley Brouwn. Arte como Projeto como Livro parte das estratégias de seus artistas e proposições para formar uma cosmogonia do pensamento e da produção a partir dos projetos, livros e materiais expostos.
Douglas Huebler [1924 - 1997, EUA]
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/d0d72744e1c646126eb6137c46ec1e98d811532a71f22426449479e67dd92a6c/Huebler--Douglas-site2.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/025479d3addb680e8dbd4a4bd449ffe7985921e652544f32b760ed8e98ca8c77/Huebler--Douglas-site1.jpg)
Huebler abdicou da criação de objetos e, interessado pela ideia da gestalt, direcionou seu trabalho para o desenvolvimento de projetos que lidam com experiências no mundo. Suas propostas partem da criação de sistemas conceituais, aleatórios ou lógicos, que determinam ações em lugares específicos ou indistintos, a serem realizadas por ele ou por outras pessoas. Essas ações são documentadas por meio de fotografias, textos datilografados, desenhos, mapas, etc. Huebler usa o tempo e o espaço como unidades de medida em seus sistemas – os títulos de suas séries são antes de mais nada descritivos, como Duration, Variable, Location – e os artefactos resultantes dos acontecimentos são evidências que caracterizam o processo. Por meio desse método, o artista busca criar um tipo de arte inserida no contexto da vida e que não tem por objetivo uma transposição visual das percepções humanas, mas sim relatá-las. Inevitavelmente, seus trabalhos levam à questão da capacidade de esses registros comunicarem a amplitude de uma experiência. Contudo, espera-se que o espectador a reconstitua em sua imaginação, de alguma maneira, através dos vestígios apresentados pelo artista.
Lawrence Weiner [1942, EUA]
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/93248cdd38eb73fd0025914b535d33fa23920af30ed9a3f0603901e5fea401a1/Weiner-Lawrence-expo-site-1.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/fcb88dcf084c9521d84ecaf1e6839aa0444a03e05838143cb3d32aec51cfcc94/Weiner-Lawrence-expo-site-6.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/c3d99b0f1ad8601028de11acd2ee8cad19df89f3076a9ebc4f02b2b97d596e2a/Weiner-Lawrence-expo-site-4.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/07cccb983c736ed34990a0bf16b2c3072de88e7b9ff9f88de8afce8ab27ed84a/Weiner-Lawrence-expo-site-5.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/fa6c3792dd00a02405125daa9a4416ac97e5a51db28966e967e37225d71dba9a/Weiner-Lawrence-expo-site-3.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/bae319e504706780a0da695b482e0242e4c97e3d22d5a7d6d84074a0fd5bd230/Weiner-Lawrence-expo-site-2.jpg)
Weiner define arte como o ato de questionar, e seu interesse como artista é despertar no espectador a capacidade de ver o mundo de outras formas. A partir de 1968, a construção da obra se tornou irrelevante para sua prática – comunicar uma ideia seria suficiente para realizá-la de forma plena. Desde então usa a linguagem como instrumento. As frases enigmáticas que cria surgem na forma de declarações, proposições ou como encadeamento de palavras. Ora lidam com o específico, ora com o geral; mas são notadamente dispostas em estruturas singulares nas quais conteúdo é forma. Os enunciados parecem pertencer a um contexto maior, que é objeto de investigação por parte de seu espectador. Weiner usa verbos em abundância, principalmente na voz passiva, denotando ação ou alteração de estado, e os associa de várias maneiras, multiplicando as possibilidades semânticas. O artista tem como premissa não imbuir seus textos de significado, o que lhes dá potência: a metaforização e a interpretação são construídas pelo espectador. Por ter características próprias, a plataforma livro proporciona uma experiência diferente dessa linguagem. A sequência, a pausa das páginas e a pontuação são elementos que possibilitam outras estruturas. De fato, Weiner considera a linguagem uma espécie de escultura, que transita e se adapta a diferentes meios, línguas, gerações e culturas.
Robert Barry [1936, EUA]
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/cc88244a809b81bb1657bd2547bc6b062b110a84bdb04fe8e4e5408da88dcac5/Barry-Robert-expo-site1.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/72e6570e7a285bd817908ca8a1d3f66e6e666a172f37b164dc6d066be91fdfaa/Barry-Robert-expo-site2.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/beff3750a192f2dd69965c98a5cec4dceb8d00cd01541694b254272769007048/Barry-Robert-expo-site3.jpg)
A obra de Robert Barry transcende a materialidade e explora o transitório, o incomunicável e o invisível. Ondas de rádio, emissão de gases e pensamentos são alguns dos insólitos materiais com os quais trabalha. O meio de comunicação primordial que utiliza é a linguagem escrita. Em suas obras, palavras e frases são apresentadas de forma estruturada e, ao mesmo tempo, aparentemente aleatória e intercambiável. Seus textos nunca determinam a o que se referem e por isso fazem do leitor um coautor – na medida em que é entregue a ele a tarefa de explorar as possibilidades de significação. A intenção é a de provocar um encadeamento de ideias e relações uma vez que as palavras não têm referente ou significante determinados. Em seus livros, nos quais os textos são mais longos e envolvem uma relação mais próxima com leitor, o processo de definição nunca se realiza e as palavras, sozinhas nas páginas, parecem dilatar-se e adquirir certa individualidade. Barry consegue criar circuitos randômicos que têm a capacidade de gerar fluidez na leitura e colocar o espectador em um estado de transe, preso em um labirinto de possibilidades.
Seth Siegelaub [1941 - 2013, EUA – 2013]
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/f2076b0ba17de9ba7ef3663c5bbb9103dac56f1ca121f9dda17983519cf83481/Siegelaub-Seth-expo-site1.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/835ebf1be89a2d70255b8c6cc41225b7f1eaafdfa3212874e50f802fdafc9e13/Siegelaub-Seth-expo-site2.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/99b8b4017a30308fecb09ce1ac06086d938493a565a4269179c6bf280da7db52/Siegelaub-Seth-expo-site3.jpg)
Ainda que tenha sido curador independente por apenas alguns anos (de 1964 a 1972), Seth Siegelaub exerceu um papel fundamental como facilitador e fomentador da arte conceitual dos anos 1960 e 70. Em consonância com artistas que consideravam a ideia e o processo mais importantes do que a materialização da obra, Siegelaub percebeu que não era necessário um espaço físico para mostrar os trabalhos com os quais lidava, apenas de um meio para comunicá-los. Encontrou na forma impressa o contexto no qual os projetos-obras poderiam ser apresentados. Os livros que editou – ou curou – eram, de fato, exposições em si. Ao transformar catálogos em plataformas artísticas autônomas, Siegelaub questionou o sistema das artes no qual estava inserido: como a arte é criada, exposta, distribuída e vivenciada. À época, a discussão sobre como os museus se relacionavam com artistas e obras tomou grandes proporções. Em 1969, um grupo de artistas fundou a Art Workers’ Coalition (AWC) – da qual Siegelaub fez parte –, que entrou em um embate direto com o MoMA. Incentivado pelos debates, Seigelaub criou o Artist’s Reserved Rights Transfer and Sale Agreement, um modelo de contrato que pretendia equilibrar as forças política e econômica dos artistas sobre suas obras.
Stanley Brouwn [1935, Suriname]
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/f72d24e34795ad84a9e80956a85fbb83b359d781a5b26e0185927385e9456c9c/Brouwn-Stanley-expo-site2.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/0ab50e2a06fb89e6e9bb780e65577e9cf1489ceef811066b7387c583cbd883cb/Brouwn-Stanley-expo-site3.jpg)
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/a91483725c0e095d5cec2009d76bb0e3210978e92cd00b3b8ee98588405bb5ac/Brouwn-Stanley-expo-site4.jpg)
Os trabalhos de Stanley Brouwn lidam com o conceito de espaço, em termos de deslocamento. Como um contraponto às distorções do transporte físico causadas pela tecnologia, o artista resgata a noção do movimento natural do corpo pelo espaço. Ele documenta seu deslocamento de várias maneiras (sobretudo utilizando como unidade de medida seu próprio passo): uma linha sobre papel, textos e números em fichas guardadas em caixas-arquivo ou cadernos de anotação – que são os materiais de apresentação de seus trabalhos em museus e em livros. Em seus livros ele registra os passos dados em diferentes países, assim como cria noções de distância através de dados abstratos – a distância de um local dado para outro imaginário ou genérico. Em outros momentos, não informa nada além da quantidade de passos, sem referência a nenhum espaço específico. Ao apresentar esses registros, em forma de dados, Brouwn suscita a consciência do movimento como medida do mundo. Na série de trabalhos intitulados This Way Brouwn, o artista pede a pessoas que expliquem a ele como ir de onde estão para outro lugar. Cada pessoa explica o trajeto de uma maneira: com palavras, com desenhos, dando pontos de referência, usando certo vocabulário. Os cartões resultantes dessa interação são um compêndio de como as pessoas se relacionam com o espaço da cidade.
ARTISTAS: Douglas Huebler, Lawrence Weiner, Robert Barry, Seth Siegelaub e Stanley Brouwn.