Exposição:
Edival Ramosa:
Nova Construção
Totêmica

org. André Pitol

   



    “Filho de pai índio e mãe negra”, Edival Ramosa (1940 –2015) é nome incontornável da produção abstrata geométrica do Brasil, ao lado de artistas como Almir Mavignier, Rubem Valentim e Emanoel Araújo. Presente nas principais exposições brasileiras dedicadas à arte contemporânea de matrizes afro-brasileiras dos anos 1970 e 1980, além de inúmeras mostras internacionais, Ramosa ganha agora uma individual que lança novo olhar sobre sua obra, depois de duas décadas de hiato: Nova Construção Totêmica, com curadoria do pesquisador e curador André Pitol, abre no dia 23 de março na coleção moraes-barbosa e revela o potencial que Ramosa enxerga na abstração de criar um espaço artístico racializado na arte contemporânea Constantemente elaboradas no percurso diaspórico que percorreu em vida, as esferas, colunas, arco-íris e cometas de Edival Ramosa são facetas de um estudo contínuo em torno das geometrias. Esse imaginário de “formas-objetos”, valorizando gradações coloridas e variações geométricas, materializa-se nas esculturas, serigrafias, projetos e esferas que compõem a exposição Nova Construção Totêmica.

    A exposição privilegia obras e projetos das décadas de 1960 e 1970, principalmente em acrílico, aço gravado e madeira laqueada, produzidos na Itália. O artista se instalou em Milão entre 1964 e 1974, em plena neovanguarda artística, notadamente construtiva, cinética e op, e trabalhou como assistente nos ateliês de Arnaldo Pomodoro e Lucio Fontana. “É notório como o pensamento geométrico de Ramosa reverbera em trabalhos totêmicos e circulares, assim como evidencia a complexidade abstrato-racial de sua poética e a proximidade que teve com outros artistas, inquietações e oportunidades voltadas ao experimental”, observa o curador André Pitol, que realizou uma pesquisa rigorosa de recuperação e compreensão da trajetória e produção artística de Edival Ramosa.

    Nova Construção Totêmica parte do título de um projeto de totem que o artista afro-indígena desenhou no ano em que desembarcou na Itália. A exposição também traz trabalhos mais recentes, além de outros interesses criativos de Ramosa. Destaca-se a colaboração do artista com o designer GianCarlo Montebello, em 1967, na criação de joias de artistas. Dois dos cinco modelos criados por Ramosa estão na exposição.

    Somam-se ao conjunto desenhos e projetos de esculturas e mobiliários, como uma estante de componentes modulares. Destaca-se a apresentação, pela primeira vez no Brasil, do filme experimental de cunho militante Processo político (1971), dirigido pelo poeta, professor e ativista político Francesco Leonetti (1924-2017). Vestindo calça jeans escura, jaqueta de couro, usando barba e corte de cabelo black power, Ramosa contracena com outros artistas visuais, atrizes e ativistas, em cenas de perambulação pelo centro de Milão. Essas imagens se misturam a registros audiovisuais dos acontecimentos políticos do momento – como o movimento operário, suas assembleias, greves e lutas por melhores condições de trabalho na Itália dos anos 1960 e 70.


Pesquisa de longa duração



    O curador André Pitol se debruça sobre a produção de Edival Ramosa há três anos, tendo apresentado os resultados iniciais de sua pesquisa na exposição de relevo A parábola do Progresso, apresentada em 2022 e 2023 no Sesc Pompeia, da qual Pitol foi curador-adjunto ao lado de Yudi Rafael, sob curadoria-geral de Lisette Lagnado. Na ocasião, Ramosa e sua obra foram retratados em um dos “núcleos documentais” que compunham a mostra.

    Também em 2023 Pitol contribuiu com uma minibiografia atualizada sobre o artista na publicação Rio XXI: vertentes construtivas” (Editora FGV, 2023), organizada por Paulo Herkenhoff.

    Nova Construção Totêmica consolida mais uma etapa do trabalho do curador, e é resultado de sua participação do terceiro ciclo do programa de pesquisas da coleção moraes-barbosa (SP). O programa parte do material disponível no arquivo da coleção para propor a formulação de articulações narrativas e conceituais marcadas pela inquietação teórica, política, formal e poética.

Sobre o artista



    Edival Ramosa (São Gonçalo, RJ, 1940 – Niterói, RJ, 2015) foi um artista contemporâneo “filho de pai índio e mãe negra”, como se identificava. Entre 1961 e 62 foi soldado militar voluntário no Corpo Expedicionário de Paz da ONU na Crise de Suez, conflito entre Egito e Israel a partir de 1956, o que lhe permitiu conhecer países no entorno do mar Mediterrâneo.

    Iniciou sua trajetória artística em Milão, na Itália, onde residiu entre 1964 e 1974 e foi assistente nos ateliês de Arnaldo Pomodoro e Lucio Fontana. Sua circulação afro-atlântica abrange ainda outras cidades italianas, além de países como Egito, Marrocos, Iugoslávia, Estados Unidos, Suíça, Bélgica e Inglaterra e cidades brasileiras como Cuiabá, Cabo Frio, Ribeirão Preto, Brasília, São Paulo e Ubatuba, entre tantos outros lugares dessa trajetória diaspórica.

    Realizou exposições individuais e coletivas, como Perpetuum Mobile (Roma, 1965), Sept Artistes Brésiliens (Genebra, 1968), Bienal de Gravura da Liubliana (Eslovênia/Iugoslávia, 1971), Geometrics Drawings and Prints (Nova York, 1971), Edival Ramosa: Homenagem aos Deuses Índios, Imitações Rituais, Reproduções Inventadas da Vida Indígena (Ferrara, 1974), I Bienal Latino-Americana de São Paulo (1978), A Mão Afro-Brasileira (São Paulo, 1988), Ritmos, Cores e Formas (São Paulo, 2003), entre outras.


Visitação 23.03 - 01.06.2024
Quarta a Sexta, das 13h às 19h
Sábado das 11h às 19h
Entrada gratuita

como chegar

Travessa Dona Paula, 120
São Paulo - SP