Exposição:
I’ve Always Loved Jezebel 

coleção moraes-barbosa e Cristina Guerra Contemporary Art

organização: Tiago Tannous, Pontogor e Joaquim Pedro









“Jezebel in later biblical traditions emerges as the embodiment of everything that is reprehensible in the other / in the woman / in the feminine / in the queen / in the whore / but I find her an entirely sympathetic character / I’ve always loved Jezebel”

Lawrence Weiner – Wild Blue Yonder

Em interpretações correntes, Jezebel é frequentemente descrita como a rainha que domina seu marido, persuadindo-o a fazer o mal. Essas interpretações foram relativizadas ao longo do tempo. Ao refletir sobre o personagem, Lawrence Weiner não se filiou a visões maniqueístas. Preferiu ressaltar a ambiguidade e as possibilidades de divergência entre interpretações subjetivas.                 
Interpretar sempre foi um problema humano. Os relatos a esse respeito são antigos. Não à toa, a parábola da Torre de Babel – na qual a língua de toda a terra teria sido confundida – é uma das mais conhecidas, em diferentes culturas. Jorge Luis Borges imaginou a Biblioteca de Babel, aludindo a “distritos en que los jóvenes se prosternan ante los libros y besan con barbarie las páginas, pero no saben descifrar una sola letra.” A filosofia ocidental se dedicou ao tema e alçou a hermenêutica a uma de suas questões centrais.

Ao adotar o texto como seu principal material, Lawrence Weiner escancarou esse problema no campo das artes visuais. Sua preocupação recai sobre as múltiplas possibilidades existentes para concatenar símbolos que, uma vez interpretados, conduzem a sentidos contingentes, precários. Não há significados intrínsecos a cada trabalho. A literalidade se torna chave para a difusão: a mesma frase, em diferentes contextos, pode ser compreendida de formas distintas. Mas isto já não é um problema do artista, cujo gesto polissêmico e engenhoso registra-se visualmente, em esculturas textuais.

A ambiguidade e a polissemia são terrenos férteis para muitas investigações. Talvez constituam solo perfeito para a expressão da sensualidade, em suas mais variadas acepções. Lawrence Weiner considerava-se um artista sensual. Assim como a polissemia dos símbolos rigorosamente articulados em suas esculturas, a sensualidade perpassa seu trabalho, embora às vezes passe despercebida pelo público.

Nesse sentido, em uma entrevista concedida a Benjamin Buchloh, Lawrence afirmou: “I am a sensual artist. I am involved with the sensual relationships of materials. That seems to be the nature of art and I don’t think curtailing that nature is going to make it any more rigorous per se, because essentially it is still about the communications of one human being’s observations to another human being with the intent of bringing about a change of state.” Em outra ocasião, disse que “[o]ne of the hallmarks of art is its sensuality. There is a sensuality in all materials. There is certainly a sensuality between any relationship of one material to another. The acceptance of sensuality is a necessity, and its existence is not hedonistic, it's just realistic.”

Esta exposição busca ressaltar esses dois aspectos da obra de Lawrence Weiner: a polissemia que resulta da interpretação e a sensualidade. Ambas se revelam em diferentes suportes: livros, discos, esculturas textuais, vídeos e efêmera. O ponto de partida é a coleção moraes barbosa, que, de forma raríssima em coleções privadas, reúne aqueles suportes com fartura e abre caminhos para diversas abordagens ao trabalho de Lawrence Weiner.

Interpretar Jezebel não é apenas um desafio hermenêutico. Trata-se de abraçar o mistério da comunicação humana, as perspectivas de cada intérprete e a sensualidade que habita as fricções entre pontos de vista que partem dos mesmos portos, mas navegam oceanos distintos, rumo ao distante azul selvagem.


Visitação 10/10 - 09/11/2024
Segunda a Sexta,
das 11h às 19h
Sábado das 15h às 19h
Entrada gratuita

como chegar

R. Santo António à Estrela 33 - Lisboa, Portugal