Exposição:
rosângela rennó:
práticas de turismo
transcendental
org. rosângela rennó
︎Algumas anotações sobre
Algumas anotações sobre
viajantes e turistas
Maria Angélica Melendi
2011/2024
No início do século 21 assistimos à hiperbolização de tudo que nos foi anunciado e vendido no século anterior: a obsolescência tecnológica, a velocidade da informação, as relações fugazes, a horizontalidade da trama do conhecimento, tudo conspirando contra o tempo do relógio, que parece ter encolhido ao impacto do tudo pela primeira vez.
Estamos sempre com pressa e, até quando viajamos a passeio, a pressa nos acompanha: o emprego do tempo deve ser otimizado e aquele que dedicamos a vivenciar a paisagem se torna demasiado curto, ainda que desejemos que essa interação seja duradoura e, com isso, profunda. Hoje podemos recorrer ao uso das mídias sociais para compartilhar as evidências de nossa inserção numa nova paisagem. Porém, o efeito resultante é sempre mais efêmero do que a própria experiência, seja ela restrita, ou não, à pura contemplação. A imagem turística é rapidamente substituída por outra, e mais outra, e mais outra, e raramente voltamos à primeira.
Há, entretanto, uma outra abordagem, menos frustrante: com algum treino é possível aguçar o olhar para enxergar através da paisagem local, para ultrapassar barreiras naturais, cruzar fronteiras, usufruir da trama da rede de informações que recobre o mundo sensível, e se transformar assim, em um/uma turista transcendental.
Ao viajar para um lugar, o/a turista transcendental invoca saberes e memórias — pessoais, emprestadas, ancestrais, enfim, de qualquer gênero que contamine ativamente a sua própria experiência, sem a expectativa de um objetivo a ser alcançado. É auspicioso agregar a uma paisagem dados e experiências pertinentes a outros povos e lugares, construindo pontes delicadas, multidirecionais, permitindo-se novas travessias mentais. Na teoria, se a mirada é prospectiva, isso funciona como se, ao contemplar e registrar o mar, ele/ela se preocupasse mais em demonstrar que aquela imensidão azul é a mesma que toca todas as praias do mundo. De maneira oposta e retrospectiva, seria como olhar para um seixo rolado tentando mapear, na sua superfície, todas as pedras espalhadas pelo mundo nascidas da mesma rocha. Na prática, o foco da câmera deve ser ao mesmo tempo preciso e difuso, enquanto a escrita lança os fundamentos do percurso cujos início e fim são menos importantes do que o meio. Porém, nada disso pode se converter em fórmula ou método: cada experiência é única e cada uma, um novo convite à imaginação de possibilidades, além do espectro do visível, muito além do mundo material.
Rosângela Rennó, 2016/2024
visitação 01.31 - 10.03.2023
quarta a sexta, das 13h às 19h
sábado das 11h às 19h
entrada gratuita
como chegar / location
travessa dona paula, 120
são paulo - sp
Estamos sempre com pressa e, até quando viajamos a passeio, a pressa nos acompanha: o emprego do tempo deve ser otimizado e aquele que dedicamos a vivenciar a paisagem se torna demasiado curto, ainda que desejemos que essa interação seja duradoura e, com isso, profunda. Hoje podemos recorrer ao uso das mídias sociais para compartilhar as evidências de nossa inserção numa nova paisagem. Porém, o efeito resultante é sempre mais efêmero do que a própria experiência, seja ela restrita, ou não, à pura contemplação. A imagem turística é rapidamente substituída por outra, e mais outra, e mais outra, e raramente voltamos à primeira.
Há, entretanto, uma outra abordagem, menos frustrante: com algum treino é possível aguçar o olhar para enxergar através da paisagem local, para ultrapassar barreiras naturais, cruzar fronteiras, usufruir da trama da rede de informações que recobre o mundo sensível, e se transformar assim, em um/uma turista transcendental.
Ao viajar para um lugar, o/a turista transcendental invoca saberes e memórias — pessoais, emprestadas, ancestrais, enfim, de qualquer gênero que contamine ativamente a sua própria experiência, sem a expectativa de um objetivo a ser alcançado. É auspicioso agregar a uma paisagem dados e experiências pertinentes a outros povos e lugares, construindo pontes delicadas, multidirecionais, permitindo-se novas travessias mentais. Na teoria, se a mirada é prospectiva, isso funciona como se, ao contemplar e registrar o mar, ele/ela se preocupasse mais em demonstrar que aquela imensidão azul é a mesma que toca todas as praias do mundo. De maneira oposta e retrospectiva, seria como olhar para um seixo rolado tentando mapear, na sua superfície, todas as pedras espalhadas pelo mundo nascidas da mesma rocha. Na prática, o foco da câmera deve ser ao mesmo tempo preciso e difuso, enquanto a escrita lança os fundamentos do percurso cujos início e fim são menos importantes do que o meio. Porém, nada disso pode se converter em fórmula ou método: cada experiência é única e cada uma, um novo convite à imaginação de possibilidades, além do espectro do visível, muito além do mundo material.
Rosângela Rennó, 2016/2024
visitação 01.31 - 10.03.2023
quarta a sexta, das 13h às 19h
sábado das 11h às 19h
entrada gratuita
como chegar / location
travessa dona paula, 120
são paulo - sp
At the beginning of the 21st century, we are witnessing the hyperbolization of everything that was announced and sold to us in the previous century: technological obsolescence, the speed of information, fleeting relationships, the horizontality of the fabric of knowledge, all conspiring against the the clock, which seems to have shrunk from the impact of everything for the first time.
We are always in a hurry and even when we travel for pleasure, the rush accompanies us: the use of time must be optimized and the time we dedicate to experiencing the landscape becomes too short, even though we want this interaction to be lasting and, with that, deep. Today we can resort to the use of social media to share evidence of our insertion in a new landscape. However, the resulting effect is always more ephemeral than the experience itself, whether or not it is restricted to pure contemplation. The tourist image is quickly replaced by another, and another, and another, and we rarely return to the first.
There is, however, another, less frustrating approach: with some training it is possible to sharpen your eyes to see through the local landscape, to overcome natural barriers, cross borders, take advantage of the fabric of the information network that covers the sensitive world, and transform yourself thus, in a transcendental tourist.
When traveling to a place, the transcendental tourist invokes knowledge and memories — personal, borrowed, ancestral, in short, of any kind that actively contaminates their own experience, without the expectation of a goal to be achieved. It is auspicious to add data and experiences relevant to other peoples and places to a landscape, building delicate, multidirectional bridges, allowing new mental crossings. In theory, if the view is prospective, it works as if, when contemplating and recording the sea, he/she was more concerned with demonstrating that that blue immensity is the same that touches all the beaches in the world. In the opposite and retrospective way, it would be like looking at a rolled pebble trying to map, on its surface, all the stones scattered around the world born from the same rock. In practice, the camera's focus must be both precise and diffuse, while the writing lays the foundations of the journey whose beginning and end are less important than the middle. However, none of this can be converted into a formula or method: each experience is unique and each one, a new invitation to the imagination of possibilities, beyond the visible spectrum, far beyond the material world.
Rosângela Rennó, 2016/2024
We are always in a hurry and even when we travel for pleasure, the rush accompanies us: the use of time must be optimized and the time we dedicate to experiencing the landscape becomes too short, even though we want this interaction to be lasting and, with that, deep. Today we can resort to the use of social media to share evidence of our insertion in a new landscape. However, the resulting effect is always more ephemeral than the experience itself, whether or not it is restricted to pure contemplation. The tourist image is quickly replaced by another, and another, and another, and we rarely return to the first.
There is, however, another, less frustrating approach: with some training it is possible to sharpen your eyes to see through the local landscape, to overcome natural barriers, cross borders, take advantage of the fabric of the information network that covers the sensitive world, and transform yourself thus, in a transcendental tourist.
When traveling to a place, the transcendental tourist invokes knowledge and memories — personal, borrowed, ancestral, in short, of any kind that actively contaminates their own experience, without the expectation of a goal to be achieved. It is auspicious to add data and experiences relevant to other peoples and places to a landscape, building delicate, multidirectional bridges, allowing new mental crossings. In theory, if the view is prospective, it works as if, when contemplating and recording the sea, he/she was more concerned with demonstrating that that blue immensity is the same that touches all the beaches in the world. In the opposite and retrospective way, it would be like looking at a rolled pebble trying to map, on its surface, all the stones scattered around the world born from the same rock. In practice, the camera's focus must be both precise and diffuse, while the writing lays the foundations of the journey whose beginning and end are less important than the middle. However, none of this can be converted into a formula or method: each experience is unique and each one, a new invitation to the imagination of possibilities, beyond the visible spectrum, far beyond the material world.
Rosângela Rennó, 2016/2024