4.000 DC
















Há no homem de cor uma tentativa de fugir da sua individualidade, de anular sua presença.











Assim é que para afirmar-se ou para negar-se, o negro toma o branco como marco referencial.

















É desse modo que o “desejo do embranquecimento” significa o desejo de sua própria morte, do desaparecimento do seu corpo, assim “o sujeito negro ao repudiar a cor, repudia radicalmente o corpo”.











Não conseguindo se ver incluído, o negro acaba por se excluir, como única alternativa para eliminar aquilo que é impossível de ser eliminado. Somente os processos auto-destrutivos podem significar, para ele, a eliminação daquilo que exclui seu próprio corpo, sua própria condição de sujeito.








O negro não deve mais se ver colocado diante deste dilema: branquear-se ou desaparecer, mas deve poder tomar consciência de uma possibilidade de existir.










O preconceito pode dar um conforto muito grande porque dá a ilusão de que você sabe automaticamente as coisas. Então, diante de uma pessoa negra, alguém supõe automaticamente que sabe tudo sobre ela. E esse conforto do preconceito alimenta a desconfiança.









E você não pode chegar à realidade de um artista negro fazendo abstração sem lidar com a abstração da negritude como uma matriz de identificações e projeções, igualmente reais e irreais.

















No centro do dizer, habita o que não se pode dizer, no universo feito de palavras há um mundo onde palavra alguma jamais pisou.


















‘Sendo o mais opaco, o mais escondido, é o que há de mais exterior e íntimo’.















O consentimento geral às opacidades particulares é o mais simples equivalente da não-barbárie.













No Brasil, depois da abolição, não se enforca mais os negros em árvores, como nos Estados Unidos, mas há outras formas sutis de extermínio, por não considerá-los como pessoa humana. É desconfiança radical e invisibilização. O negro é um cidadão invisível. Quando ele aparece, a violência aparece também.











Caminhando em vão, triste sem direção
Pensamentos voam, tira os pés do chão
Ninguém vai me notar, sou um homem invisível
Que mantem distância, prefiro assim








“Se eu não fosse o Mano Brown, seria invisível na rua”.















Sem um passado negro ou um futuro negro, foi me impossibilitado existir a minha negraria.














Um homem na estrada recomeça sua vida
Sua finalidade a sua liberdade
Que foi perdida, subtraída
E quer provar a si mesmo que realmente mudou
Que se recuperou e quer viver em paz
Não olhar para trás.














Quando as pessoas terão perdido sua
lembrança e, portanto, terá
sem passado, apenas futuro.
Quando eles terão que descobrir tudo
cada momento de novo e de novo
Quando eles terão perdido a necessidade de contato com os outros ...
Então eles viverão em um mundo de apenas cor, luz, espaço, tempo, sons e movimento










No fim do mundo, a negritude consta como vida e o negro, como humano.





























A CABEÇA DO POVO BRASILEIRO

Tiago Gualberto

A partir deste título, articula-se a produção de uma vídeo instalação à distribuição gratuita de 5 mil álbuns de figurinhas no espaço do Sesc Pompéia, projeto da arquiteta Lina Bo Bardi em São Paulo, na ocasião da exposição “A Parábola do Progresso”.
A primordial coleção de selos postais e carimbos pertencentes à cmb serviu de fonte para traçados conceituais em torno de temas como colecionismo, circulação alternativa de imagens e curadoria. O variado conjunto de imagens utilizadas no projeto, em sua maioria de domínio público, é oferecido como promotor de diálogos sobre as conexões entre o colonialismo e as mudanças climáticas.



Legendas das figurinhas:

[01] Mona Lisa digitalmente modificada ou “deepfakes”, 2019. Egor Zakharov, Instituto de Ciência e Tecnologia Skolkovo, Moscou

[02] Reportagem sobre a inauguração dos "orelhões", criação da arquiteta Chu Ming Silveira, 1972. Acervo de Chu Ming Silveira. ©orelhao.arq.br

[03] Interior de Navio Negreiro, publicado no Pictorial Times, 1843

[04] Alegoria da África, da série Quatro Continentes (detalhe), 1580-1600. Adriaen Collaert.

[05] “Retrato de criança no colo de ama”, 1866/1870. Alberto Henschel, Recife

[06] Selma Aparecida de Paula (1961-2015). Acervo pessoal do artista

[07] Conjunto de oito figuras do Culto Gêge-Nago, publicado por Nina Rodrigues em “As bellas-artes nos colonos pretos do Brazil: a esculptura”, 1904

[08] Escravo morrendo, 1513-1516. Michelangelo, Museu do Louvre. Fotografia de Shadowgate, 2013

[09] “A Palmatória”, 1861. Hermann Kummler, Pernambuco

[10] O traficante português Diligenté capturado por H.M. Saveiro Pearl com 600 escravos a bordo, levado para Nassau. 1816 - 1889

[11] Mapa “Terra Brasilis”, segundo a Portugaliae Monumenta Cartográfica, 1519

[12] Ilustração a partir de fotografia de retina. Autoria desconhecida

[13] Revolta popular, 2013. São Paulo, SP. Autoria desconhecida

[14] Martha Vasconcellos, Miss Universo 1968, durante visita ao Palácio dos Bandeirantes em São Paulo. Arquivo Nacional/RJ

[15] África - série de Alegorias dos Quatro Continentes (detalhe), 1810. José Teófilo de Jesus

[16] Maria Adília de Jesus (1920-2002) no grupo de Lampião, 1936-1938

[17] Baltazar (1959), jogador de futebol, s.d. Arquivo Nacional/RJ

[18] Sugestão de estampagem da cédula de Um Cruzeiro, desenhada por Alexandre Wollner, 1966

[19] Charles Atlas em Slave Girl Comics #2, 1949

[20] Ilustração de uma padiola em uma praia brasileira. Fundação Biblioteca Nacional/RJ

[21] Amauri (1935), jogo do Mundial de Basquete Brasil x Rússia, s.d. Arquivo Nacional/RJ

[22] Jorge Lafond (1952-2003) em sua principal personagem Vera Verão. Reprodução/Rede Record

[23] Desfile do Salgueiro de 1955. Fundo Correio da Manhã

[24] Brasil, do álbum de gravuras “Jogo de Geografia” (Jeu de la Géographie), 1644. Stefano della Bella

[25] Brigitte Bardot em visita ao Brasil, 1964. Arquivo Nacional/RJ

[26] Cartaz feito em 1888 por uma fábrica de tecidos. Arquivo Nacional/RJ

[27] Selo comemorativo Departamento de Correios e Telégrafos, 1981. Ivani Wasth Rodrigues

[28] Requerimento do Salgueiro ao Serviço de Censura sobre o enredo de carnaval “Anos trinta, Vento Sul - Vargas”, 1985. Arquivo Nacional/RJ

[29] James Bulger sendo sequestrado por Thompson e Venables em uma imagem gravada em circuito fechado de televisão (CCTV), 1993

[30] Memes da Vitorya, 2019. Facebook

[31] Esqueletos no Museu Nacional de História Natural da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, RJ., s.d. Agência Nacional

[32] Ilustração de  São Benedicto., s.d. Fundação Biblioteca Nacional/RJ

[33] Mão mostrando artérias injetadas com mercúrio, 1901. A. W. Isenthal e H. Snowden Ward

[34] Ilustração de Ivan Wasth Rodrigues (1927-2007) retrata estafeta em Minas Gerais, no início do século XIX. Década 1980. Museu Postal e Telegráfico, Brasília

[35] Ilustração de mariposa com duas faces. s.d. Autoria desconhecida. Arquivo Nacional/RJ

[36] Luis Moraes (1930-2020), jogador de futebol, s.d. Arquivo Nacional/RJ

[37] Perin, a ciência da quiromancia; um tratado autêntico e completo, 1902

[38] A sesta brasileira, 1821. Shoosmith, C; Henderson, James. Fundação Biblioteca Nacional/RJ

[39] Figura masculina sentada. Artista Bidyogo, Guiné-Bissau. In: Negerplastik (escultura negra) Carl Einstein. 1912

[40] Cadeira Gaming Preto-Branco X-Comfort. Thermaltake. Reprodução

[41] Renatex e seus amigos imigrantes húngaros no bairro da Mooca-SP, década de 1970. Acervo pessoal do artista

[42] Reportagem sobre a criação dos Orelhões (detalhe), Revista ARQUITETO, 1973. Acervo de Chu Ming Silveira. ©orelhao.arq.br

[43] Selo Cândido Rondon, 1958. Correios, Brasil

[44] Nadador recordista Tetsuo Okamoto, 1957. Fundo Correio da Manhã

[45] Ameixa amarela (Eriobotrya japônica). Reprodução.

[46] A fruta que envolve a semente do guaraná, 2006. Anita Fortis

[47] Quilt Plots: uma ferramenta simples para a visualização de grandes dados epidemiológicos (detalhe), 2014

[48] Estudos de apresentação de Color Data, 2019. Michael Seifert

[49] Medidas del Romano, 1541. Diego de Sagredo

[50] Recepção de indígena no Palácio do Alvorada por Juscelino Kubitschek, 1960. Arquivo Nacional/RJ
 [51] Reconstituição de indivíduo humano de sexo feminino (Luzia) com base nos remanescentes do crânio achado em Lagoa Santa, Minas Gerais, 1999. Acervo de Antropologia Biológica do Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro

[52] Deusa do Fogo por Kepper, s.d. Reprodução

[53] “The Dawn está chegando” (prévia), 2021. The Weeknd. Youtube

[54] Incêndio Museu Nacional do Rio de Janeiro, 2018. Mercopress

[55] Cristo denunciando falsos profetas e fariseus (detalhe), ilustração para Mateus 7: 15-21, 1530-1536. Daniel Hoffer

[56] Torrido Zone (Zona Tórrida), ilustração do globo terrestre. Autoria desconhecida

[57] Imagem do filme King Kong, 1933, concepção de Merian C. Cooper e Edgar Wallace

[58] Mercado de escravos (detalhe), 1827 - 1835. Johann Moritz Rugendas

[59] Brevísima relación de la destrucción de las Indias, 1552.  Sebastian Trugillo, Sevilha

[60] Indígena Apinayé do Tocantins, s.d. Arquivo Nacional/RJ

[61] “Carregando uma liteira (Palanquin)”, Brasil, 1816. projeto Slavery Images: A Visual Record of the African Slave Trade and Slave Life in the Early African Diaspora 

[62] Plano e corte transversal do navio negreiro Brookes, de Liverpool (detalhe), 1789

[63]  Ilustração de "Cadeirinha" - Going to Mass, 1829. Fundação Biblioteca Nacional/RJ

[64] Fotograma da animação Tour de Pharmacy: The Red Blood Cell, 2017. McD Workshop

[65] Modelo de câmera de vigilância em domo para uso interno. Reprodução

[66] Máscaras de dança dos indígenas Tucuna (detalhe). Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1793)

[67] Lavagem de diamantes na mina de Mandanga, 1817. John Mawe

[68] “Razões para a arquitetura antiga”, de Vitruvius & outros arquitetos antigos, 1555. Diego de Sagredo.

[69] Ilustração do recibo de venda do escravo Benedito a Maria Antônia Teixeira (detalhe), 1851

[70] Phillis Wheatley (1753 -1784) foi a primeira afro-americana a publicar um livro e a primeira mulher americana a ganhar a vida com sua escrita

[71] Atualização da reconstrução computadorizada do crânio de Luzia, "a primeira brasileira”, 2018. © Prof. André Strauss

[72] Aparelho Mulogix Slave 32, um módulo sintetizador digital montado em rack. Alisson Cassidy 

[73] Ilustração de Uma história dos cativos de Amistad, relato circunstancial da captura da escuna espanhola Amistad, pelos africanos a bordo, 1840

[74] Balsa da Medusa (detalhe), 1818-1819. Théodore Géricault

[75] Artista Bolaji Badejo com figurino e descansando no set de Alien, 1979. © Mike Sibthorp crédito mike@mikesibthorp.com

[76] Imagens de vídeo CCTV nas fronteiras Arizona-México, 2016. NY Times

[77] Modelagem de rosto 3D para reconhecimento de rosto na natureza, 2018. Centro de Integração e Comunicação de Mídia, Universidade de Firenze, Itália

[78] Astromóvel [rover] da NASA encontra química orgânica ativa e antiga em Marte, 2014. NASA/JPL-Caltech/MSSS

[79] O último soldado americano deixa o Afeganistão, 30 de agosto de 2021. Twitter oficial do Comando Central dos EUA (CENTCOM)

[80] Pontos críticos faciais utilizados para a criação do descritor GeoTopo, 2014. Antonis Danelakis.

[81] Redondo, cocos, bactérias, compostos, polissacarídeos, biofilme, s.d. Rodney M. Donlan, Ph.D., Janice Carr

[82] Cabeça de Ifé, Nigéria, século XII-XV. De “Uma História do Mundo em 100 Objetos”, 2016. Museu Nacional da Austrália, Canberra

[83] Cristo, s.d. Antônio Francisco Lisboa (1738-1814). Fotografia de Carlos Oliveira Reis

[84] Página do artigo “A Mão do Povo Nordestino” (detalhe), de Lina Bobardi, 1977. Arte Vogue 

[85] Capa de A mão afro-brasileira: significado da contribuição artística e histórica. Emanoel Araújo (org.), 1988.

[86] Coluna “Olho Sôbre a Bahia”, de Lina Bo Bardi, 26 de outubro de 1958. Diário de Notícias

[87] Grupo de 300 imigrantes africanos durante resgate na costa da Sicília, na Itália, 2015. Alessandro Bianchi /Reuters

[88] O topo do crânio, mostrando as suturas, 1904. Blaisedell

[89] Ilustração para o aniversário de Kyka, 2014.

[90] GeoTopo: recuperação de Expressão Facial 3D Dinâmica usando informações topológicas e geométricas. Quadros iniciais de sequências de conjuntos de dados BU − 4DFE em que os sujeitos não começam com uma expressão neutra, 2014. Antonis Danilakes

[91] (d) Áreas salientes de medo e (e) Áreas salientes de felicidade no reconhecimento de expressões faciais com características de fusão extraídas de áreas faciais salientes, 2017. Yanpeng Liu, Yibin Li, Xin Ma e Rui Song

[92] Artista não identificado. África central, madeira, 22 cm. In Negerplastik, de Carl Einstein, 1915.

[93] Retrato do Intrépido Marinheiro Simão, carvoeiro do vapor Pernambucana (1853-57) (detalhe). José Correia de Lima. Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro.

[94] Cabeças de membros do bando de Lampião, do próprio e de Maria Bonita, 1938. Autoria desconhecida/Acervo Frederico Pernambucano de Mello

[95] David Beckham em sua campanha Malaria No More, onde deepfakes lhe permitiram entregar sua mensagem em nove idiomas diferentes, 2019.

[96] A polícia pede informações depois de divulgar imagens de câmeras de segurança do roubo de Emersons Green, 2016.

[97] Fotograma de “Tarsila do Amaral - Desenhista e pintora Brasileira.mp4”, 2012. Youtube

[98] O Sudário de Turim. Catedral de São João Batista, Turim, Itália

[99] O caso de um mineiro, de quarenta e sete anos, atingido no olho esquerdo por uma lasca de carvão. "Lesões oculares e seu tratamento", 1907.

[100] Imagem H-alfa da atividade na cromosfera do Sol do GONG, processada através do NOAA SWPC, 2021. NSO/AURA/NSF com contribuição da NOAA.